O avanço das investigações sobre o desaparecimento e a execução de quatro homens em Icaraíma escancarou uma engrenagem criminosa que opera à sombra das matas fechadas nas margens do Rio Paraná.
Não se trata apenas de um crime bárbaro: os trabalhos policiais e ambientais revelaram uma rede de bunkers subterrâneos utilizados para ocultar veículos, contrabando e drogas vindas do Paraguai.
O epicentro das descobertas é a Fazenda Jundiá, no distrito de Vila Rica do Ivaí. Neste mês, durante buscas, agentes localizaram a caminhonete Fiat Toro usada pelas vítimas enterrada em uma dessas estruturas.
O resgate durou mais de dez horas e expôs um veículo perfurado por tiros, com vestígios de sangue e o boné de Diego Henrique Afonso, de 39 anos, uma das vítimas.
Dias depois, em uma área de mata na mesma propriedade, foram encontrados os corpos de Diego Henrique, Rafael Juliano Marascalchi, 43 anos, Robishley Hirnani de Oliveira, de 53 anos, e Alencar Gonçalves de Souza, de 36 anos.
As circunstâncias da chacina se entrelaçam com irregularidades ambientais flagradas na mesma fazenda. A Polícia Militar Ambiental aplicou R$ 7,5 milhões em multas por degradação de 278 hectares, incluindo áreas de preservação e reserva legal.
O relatório aponta supressão de mata, pisoteio de gado, compactação de solo e assoreamento de cursos d’água. A propriedade foi embargada, e arrendatários e proprietários foram notificados.
A Polícia Militar Ambiental enfatizou que a autuação ambiental não vincula os proprietários ou arrendatários ao crime investigado pela Polícia Civil.
As apurações sobre o desaparecimento e as mortes seguem em inquérito criminal separado.
Embora a autuação ambiental não implique ligação direta dos donos ao crime, os fatos reforçam a imagem de um território dominado por ilícitos.
As buscas revelaram ainda outros esconderijos subterrâneos, construídos com concreto e ferro, camuflados pela vegetação nativa. Estruturas que, segundo a Polícia Civil, funcionam como depósitos de cargas ilegais.
Os principais suspeitos de envolvimento com os assassinatos e com a rede criminosa são Antônio Buscariollo, de 66 anos, e o filho, Paulo Ricardo Costa Buscariollo, de 22 anos, ambos foragidos.
Para além do caso policial, o episódio expõe a face econômica de uma atividade silenciosa. Em municípios pequenos da região, não são raros os sinais de ostentação, como fazendas luxuosas, veículos caros, negócios que prosperam sem explicação clara.
Autoridades apontam que o contrabando e o tráfico viraram parte invisível da economia local, sustentando atividades de fachada e corroendo as práticas legais.
A Fazenda Jundiá, agora interditada, virou símbolo dessa sobreposição de ilegalidades: de um lado, a destruição ambiental; de outro, os crimes violentos e a logística subterrânea do contrabando.
Enquanto a Polícia Civil busca esclarecer a chacina e identificar todos os envolvidos, o Ministério Público e a Justiça acompanham as consequências ambientais. Até o momento, proprietários e arrendatários não se manifestaram.
