O crescimento e a popularização do uso das chamadas “canetas emagrecedoras” têm aumentado a preocupação das autoridades sanitárias. Inicialmente desenvolvidas para o tratamento de diabetes tipo 2, elas têm sido, cada vez mais, utilizadas para o emagrecimento de forma indiscriminada, o que pode resultar em sérios problemas de saúde.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) alerta que o uso desses medicamentos sem acompanhamento médico e sem controle é bastante arriscado. “Temos uma preocupação muito grande com o uso das chamadas ‘canetas emagrecedoras’. Existe um grande risco de fazer o uso dela sem o acompanhamento de um médico”, reforçou o secretário de estado da Saúde, Beto Preto.
Entre os efeitos colaterais que o uso desses medicamentos podem ocasionar está o dano aos órgãos do sistema digestivo. O diretor geral da Sesa, César Neves, reforçou os riscos que o uso indiscriminado, sem acompanhamento médico pode causar. “Eu sou médico gastroenterologista e sei que o uso dessas canetas podem causar desde refluxo, úlcera do esôfago, úlcera gástrica e até mesmo hemorragia gastrointestinal”.
Quando injetam substâncias que imitam hormônios intestinais, elas promovem a saciedade e retardam o esvaziamento gástrico. A sensação de ‘estômago cheio’ diminui o apetite e, consequentemente, o peso.
Falsificações – As apreensões das “canetas emagrecedoras” têm sido uma rotina na fronteira do Paraná com o Paraguai. O uso desses medicamentos adquiridos de forma ilegal são ainda mais graves, pois estão sujeitos a falsificação, transporte inadequado e falta de comprovação de qualidade.
Em apreensão recente de 400 canetas pela Polícia Federal na Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai, o produto estava escondido em um fundo falso de um carro sem nenhum tipo de refrigeração e sem controle de origem. “Elas vêm para cá sem lote, sem identificação e podem causar um dano terrível ao trato digestivo”, completou César Neves.
As canetas emagrecedoras também passam por discussões legais e sanitárias no Brasil. Recentemente, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) decidiu não incorporar esses medicamentos ao Sistema Único de Saúde (SUS) em razão, principalmente, de seu alto custo. O preço varia de R$ 600 a R$ 1.800 por unidade.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) definiu regras para a manipulação de canetas de GLP-1 e proibiu a manipulação da semaglutida, presente em medicamentos como Ozempic e Wegovy. A decisão do orgão é apoiada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), que apontou as dificuldades em manter a garantia de pureza, origem ou identidade molecular do produto manipulado.
O uso desses medicamentos indicados para o tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade deve ocorrer exclusivamente sob acompanhamento médico. O endocrinologista é quem vai determinar a dose, o princípio ativo e o tempo do tratamento. Fazer uso desses remédios sem acompanhamento pode trazer graves problemas de saúde; seja por efeitos colaterais, reganho de peso ou emagrecimento ineficiente.
Além disso, a venda das chamadas canetas emagrecedoras em farmácias e drogarias só pode ocorrer mediante retenção de receita, medida necessária para garantir a segurança e a saúde da população.
Quem mais consome as canetas emagrecedoras são as mulheres jovens e adultas. A cobrança pelo corpo ideal ainda recai de forma mais intensa sobre elas. Muitas já tentaram várias dietas e métodos convencionais sem sucesso. Por isso, recorrem a uma solução aparentemente definitiva.
Nutricionistas alertam que a proximidade do verão faz a procura aumentar ainda mais. O fator estético ganha nesta época do ano. Muitas mulheres querem perder de 5 a 10 quilos em poucos meses e alcançar o chamado ‘corpo de praia’, mas isso pode colocar a própria saúde em risco.
